quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O espelho (Machado de Assis) [UNICAMP]


Esse conto de Machado de Assis fala de vaidade e evidencia a fragilidade identitária que caracteriza a alma humana. 
Defendendo a teoria de que o homem possui duas almas, uma interior e uma externa e mutável, a personagem Jacobina exemplifica com sua própria vida o discurso que empreende para defender essa tese.
Ele conta que aos vinte e cinco anos (na história ele tem entre 40 e 50 anos) se tornou alferes. A partir daí toda a sua família e as pessoas da rua começaram a engrandecê-lo por conta da farda, a chamá-lo de "Senhor Alferes", a bajulá-lo, enfim, a engrandecer o seu ego. Ele conta que, no começo, não se sentia muito confortável com toda essa adjetivação de superioridade e que com o passar do tempo, foi se acostumando a isso e se tornou, então, dependente dessa imagem e prestígio que a sua farda lhe concedia.
Certo dia foi passar umas semanas na fazendo de sua tia, distante da cidade, a qual lhe pediu que lá fosse vestido na farda. Ele obedeceu-lha. Lá ele foi novamente mergulhado em paparicações, elogios, engrandecimentos por conta do posto e da farda de alferes. Só que sua tia precisou se ausentar por muitos dias, para cuidar de sua filha muito doente, e deixou Jacobina encarregado de permanecer na fazendo aguardando a sua volta.
É na ausência de sua tia que Jacobina tem a maior prova da existência de sua segunda alma. Ele conta que ficou enlouquecido de tédio e solidão. Não suportava mais ficar sozinho com ele mesmo, pois se sentia vazio sem as bajulações  e engrandecimentos que recebia de sua tia. Então, ele decidiu se olhar no grande espelho que sua tia lhe dera de presente, o qual estava em seu quarto. Pela primeira vez, ele foi até o espelho e se olhou nele. 
As únicas imagens que viu foram linhas disformes e embaçamentos em seus contornos. Ele olhava, olhava e não se via. Isso porque ele não se sentia mais um ser com identidade, uma vez que sua alma se deixou levar pela vaidade e se encapsulou naquela farda e no prestígio que recebia por possuí-la. Então, numa atitude desesperada por se sentir alguém, vestiu a farda e voltou a se olhar no espelho. 
Funcionou! Ele consegui se enxergar! Sentiu-se alguém de novo, sentiu a pessoa na qual ele se reduziu a ser: um alferes, um fardado, que se alimenta de engrandecimentos e glórias que a sociedade oferece a que possui sua patente.
Nesse conto Machado desnuda a alma humana, mostra como ela pode ser mesquinha, podre, de identidade frágil, contraditória e, sobretudo vaidosa. É super encantador a forma como Machado de Assis constrói o perfil  de suas personagens e põe aos avessos a sua alma que sempre está lodacenta e ávida por mais e mais lama.
Espero que você tenha gostado. Essas palavras são um pouco da minha leitura sobre esse conto maravilhoso. Há algumas mais questões que eu não falei aqui, mas que estão no meu comentário em vídeo, em meu canal do youtube LER PARA CRER. Clique abaixo e assista, inscreva-se no canal, curta, compartilhe, sinta-se à vontade.








Um abraço,
Paty Andrade.









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