quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Coaraci: Curral eleitoral

Passada a perplexidade, não é tão incrível entender como um falso governo ainda consegue levar às fardas tantos que, como numa onda de massa modelável, urram em prol de um favoritismo que não tem nada a ver com justiça e progresso. Viva um
município que se torna a cada ano tão engessado na força enfraquecida de um comerciozinho local e nas orgias de forças políticas retrógradas. O voto de cabresto resiste, mudando apenas de roupagem e cor. Os pobres que recebem hoje cestas básicas, dinheiro, favores, materiais de construção, cavam mais fundo o abismo em que, às cegas, se atiram, numa sôfrega e hedonista matança de fome e “fome”. Acrescento a eles os também famintos e pobres de liberdade de escolha, que fortalecem a manutenção do curral eleitoral para permanecerem em seus cargos e benefícios. Aos encabrestados, conveniências e circo. A Coaraci, mais quatro anos de miséria, lavagem de dinheiro, desrespeito, hipocrisia e afundamento. E viva a vontade do povo... que pensa enquanto umbigo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Amarras não são estilo de vida, vida de engano.  Sejamos nós mesmos, ainda que tomando um sorvete ou nos momentos de necessária reinvenção.
:p




4º Motivo da rosa - Cecília Meireles

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Assumida sim!



Se a vida é tão frágil e o tempo sutil, por que eu haveria de esconder a minha humanidade em prol da conveniência hipócrita de outros? Assumida, eu? Sim! Assumo minha condição de eterna estudante, de mulher, de cidadã e de responsável pelo meu destino. Assumo com leveza de alma minhas decisões e consequências delas. Triste é ouvir de outros julgamentos inapropriados e cuspidos por mera reprodução de hábitos. Se me definem como fazedora de escolhas, eu escolho então ser quem sou: HUMAMA, alguém que não se resume a uma específica identidade dentro dos papeis que assume na sociedade em que vive e com a qual se relaciona. Veja-me como quiser, adjetive-me do que achar necessário. Apenas não me defina pelo ângulo em que me enxerga. Descolonize o seu olhar. Não se define ninguém por sua raça, sexualidade, religião. Detesto nomenclaturas. Não me resumo a nomes, tampouco sou inominada. Simplesmente sou Mulher, Humana, vivo a minha vida da forma que preciso e que feliz me torna. Não se trata de exposição, mas sim de vestir minhas verdadeiras vestes. Respaldos transcendentais quais sejam não são suficientes para me lacrar nos gessos das convenções. Não preciso ouvir sem questionar, não tenho obrigação de ler e simplesmente obedecer. Sei até aonde preciso ir. Assumo sim minhas vontades, assumo minhas necessidades, inclusive a falta delas. Detesto chamas que se escondem. E já que todas as escolhas têm seu preço, eu escolho assumir a mim mesma. Pronto. Prefiro sempre o preço da liberdade ao sossego da servidão.

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto.
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem.
(Adriana Calcanhoto – Senhas).








quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um Novo Lar Para Jady


Não é que falar da dor de outros seja mais fácil. Mas, falar da nossa não é menos difícil. Há dias venho condicionando a mente à idéia de que precisava dar a minha cadelinha a uma família que a amasse e cuidasse. Este momento chegou. Como já esperava, foi uma separação sofrida para mim. Não suportava mais ter que deixá-la sozinha, trancada neste apartamento, enquanto eu ia ao trabalho e à faculdade. O tempo que passávamos juntas era muito pouco e só tínhamos uma à outra. O aperto no coração só aumentava. Cachorros filhotes gostam de brincar e de estar entre pessoas. Por mais que tivesse me apegado a ela, desejava que vivesse no lar de uma família mais numerosa, numa casa com muito espaço para que se divertisse e pessoas que pudessem dar a atenção de que precisava. Quando a nova dona chegou, a hora da dor veio em parceria. A alegria da menina em ter um cachorrinho me confortava. Suas explicações de como costumava cuidar de animais também. Jady estará em boas mãos, pensei. Entreguei minha branquinha à garota, juntamente com sua ração e milhares de recomendações. Afaguei-a num gesto de despedida e a vi se distanciar, num colo que não era o meu. Num imenso esforço, contive as lágrimas enquanto ela se afastava me olhando de uma forma interrogativa. Fechei a porta, subi as escadas chorando, mas aliviada porque ela teria, a partir dali, uma pessoa que possuía tempo de sobra para cuidar e brincar com ela. Entrei em casa e comecei a limpar sua infantil bagunça do dia, de seu último dia nesta casa. Mesmo com a certeza de que fiz o sacrifício para garantir seu bem-estar, o pranto não cessava. Voltei à velha e insuportável solidão, mas dela livrei a minha eterna Jady.



sexta-feira, 27 de abril de 2012


 

Classifico-te medonha não porque tuas primaveras já se vão às sêxtuplas décadas, mas por teu humor estar em constante desgosto com a vida. Quem te olha ao primeiro enxergar, se engana com tua aparência mística, de vestes brancas às sextas-feiras, as quais transmitem uma pseudopaz. Basta que verbalizes um pouco de teus pensamentos e logo se percebe o quanto a tua áurea é pesada e incita a antipatia.  Esse cabelo avermelhado, noutra pessoa, seria uma vaidade banal, só que em ti me faz pensar no diabo. Sim, neste que se eterniza no maniqueísmo das culturas e ao qual eu associo a tua rabugenta existência. És um ser neurótico, de olhares nefastos, língua ferina e presunção hipócrita. Resumir-te a isto é o máximo que consegues de minha pessoa ao fazer-me conhecer tua estranha personalidade. Medonha e horrenda. Levarei tua lembrança aos meus melhores futuros, como aquela que nunca se aposentava. A velha medonha da academia.  

terça-feira, 10 de abril de 2012

O padecer da vida

Tão logo nascemos em prática se põe, como numa sina, o verbo que este texto titula, além de substantivado estar. A imprevisibilidade da vida torna tão evidente a fragilidade da existência que faz nascer no humano a crença de que seria esta vida terrena a justificativa para uma vida subsequente,  eterna. Há os que põem sua esperança num futuro que trará, a pensar, tempos melhores. Outros criticam os entorpecentes gerados na vida social. Quem seríamos nós, mortais, aptos a dizer qual método de anestesiar a própria consciência é o menos agressor ou sadio? Em verdade, não há lições de moral ou testemunho de vida tão válidos que valham a pena o sacrificar-se para correr atrás de algo que não se sabe às claras o que é. Envelhecemos na corrida atrás do vento. Essa é a verdadeira ocupação criada e sofregamente perseguida por todos os racionais. As desgraças dos - rotulados - desafortunados tornam-se as mesmas dos que se julgam contemplados de uma acepção. O comedimento incorporado na vida social e necessário a ela apenas reforça a ideia de que o homem conhece tão pouco de si mesmo que prefere conter-se a desvendar seus verdadeiros significados. Viver e padecer. Nos bastidores são sinônimos. Se todos cegos fôssemos, talvez as coisas fossem o que verdadeiramente são. Começamos a morrer quando nascemos, vivemos um padecer. E morremos todos de morte igual, mesma morte severina: a morte que se morre de frieza ainda em vida, de cegueira sem escuro, de morrer um pouco por dia.