segunda-feira, 10 de abril de 2017

Oi, gentchê!

Nesse vídeo eu respondo a umas perguntinhas sobre meus livros e proponho o mesmo para a dona de um canal que gosto muito. Responda você também a essas perguntas, eu vou adorar conhecer um pouco sobre seus livros e seus gostos.


                                                           
                                          https://www.youtube.com/watch?v=k3dXHS4uszg

Eis as perguntas:

1) Qual foi a melhor leitura que você já fez?

2) Lembra qual foi o primeiro livro que você leu mais de uma vez?

3) Fala a verdade: que livro você começou a ler e parou no meio do caminho?

4) Qual o seu autor favorito?

5) Fala um livro que você leu e odiou?

6) Narrativa em primeira ou em terceira? Qual você prefere e por quê.

7) Se você pudesse entrar no enredo e viver um pouco da vida de um personagem, qual personagem você gostaria de ser?

8) Qual livro você está lendo no momento?

9) Já selecionou a próxima leitura? Qual será?

10) Fala uma frase de um de seus livros que ficou em tua memória e te marcou.

11) Recomenda alguma leitura?

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Assista também:

Lolita - Vladimir Nabocov: https://www.youtube.com/watch?v=GKgrAnDwxVk

Unboxing - meu primeiro kit TAG - Experiências literárias: https://www.youtube.com/watch?v=k9MsI7YmS7M


O amante do comandante - Mia Couto (conto): https://www.youtube.com/watch?v=EpZkYlurFGY



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quinta-feira, 6 de abril de 2017

TPM

Que saudade do antigo lar
que saudade de casa
daquela casinha pequena e sem privacidade
daquele sofá surrado e sempre limpo
daquele tapete desbotado e que esquentava gostosamente meus pés
Que saudade de meu cachorro
de seu olhar de coitado a mendigar minha bolacha
de seu roncar aos pés de minha cama

De meus sonhos na fronha surrada

Que saudade daquela pequena casa
da velha TV que só me proporcionava filmes reprisados
do portão que batia toda vez que alguém saía
da rua barulhenta que se ouvia no fundo de casa

Que saudade do aconchego do edredom no sofá
do café sem leite
do pão com margarina

Ah, quem me dera ter o poder do teletransporte
para poder voar e atravessar os portais
que me separam daquela velha casa
Se eu pudesse,voltaria sempre que batesse a saudade
num mero fechar de olhos
minhas raízes voltariam ao tronco

Essa saudade não é das que machucam
é das que enchem o peito de lágrimas e saudade mesmo

Não tenho saudade do meu eu daquela casa pequena
tenho saudade do eu de hoje experimentando aquela casa

Ai, que saudade de meus velhos,
que saudade de meu anjo-irmão
de minha caçula-irmã
de meu idoso cachorro
do velho guarda-roupa
da velha casa

da casa que é a mesma casa
mesmo depois de mim









quarta-feira, 15 de março de 2017

Bola de fogo

A bola de fogo cresceu, fez morada. Sim, aquela bola que queima meu peito e abdômen e me faz estremecer. Ela queima forte, tão forte, tão forte, que secou minhas lágrimas. Eu até queria chorar, quero muito conseguir chorar para escoar os pedregulhos, mas tenho falhado. Foram cinco tentativas, no banheiro, de fluir, e nada. 

Eu sinto que vou explodir. Meus cabelos caem, meus pés se escondem mais do que nunca, minhas pernas trepidam, minhas mãos suam, aqueles olhinhos estão sempre diante de mim. 

Meu coração está apertado e entre duas mãos, uma na frente e outra nas costas, que o pressionam me tirando o pé da realidade consciente. 

Sinto-me sendo sugada, pouco a pouco, por um movimento de forte interiorização, e estala em meus ossos uma dor que movimenta as mãos que comprimem meu coração. E a bola de fogo me consome intensamente... Ela não para... eu sinto dor. Na verdade, eu estou sentindo muita dor.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O espelho (Machado de Assis) [UNICAMP]


Esse conto de Machado de Assis fala de vaidade e evidencia a fragilidade identitária que caracteriza a alma humana. 
Defendendo a teoria de que o homem possui duas almas, uma interior e uma externa e mutável, a personagem Jacobina exemplifica com sua própria vida o discurso que empreende para defender essa tese.
Ele conta que aos vinte e cinco anos (na história ele tem entre 40 e 50 anos) se tornou alferes. A partir daí toda a sua família e as pessoas da rua começaram a engrandecê-lo por conta da farda, a chamá-lo de "Senhor Alferes", a bajulá-lo, enfim, a engrandecer o seu ego. Ele conta que, no começo, não se sentia muito confortável com toda essa adjetivação de superioridade e que com o passar do tempo, foi se acostumando a isso e se tornou, então, dependente dessa imagem e prestígio que a sua farda lhe concedia.
Certo dia foi passar umas semanas na fazendo de sua tia, distante da cidade, a qual lhe pediu que lá fosse vestido na farda. Ele obedeceu-lha. Lá ele foi novamente mergulhado em paparicações, elogios, engrandecimentos por conta do posto e da farda de alferes. Só que sua tia precisou se ausentar por muitos dias, para cuidar de sua filha muito doente, e deixou Jacobina encarregado de permanecer na fazendo aguardando a sua volta.
É na ausência de sua tia que Jacobina tem a maior prova da existência de sua segunda alma. Ele conta que ficou enlouquecido de tédio e solidão. Não suportava mais ficar sozinho com ele mesmo, pois se sentia vazio sem as bajulações  e engrandecimentos que recebia de sua tia. Então, ele decidiu se olhar no grande espelho que sua tia lhe dera de presente, o qual estava em seu quarto. Pela primeira vez, ele foi até o espelho e se olhou nele. 
As únicas imagens que viu foram linhas disformes e embaçamentos em seus contornos. Ele olhava, olhava e não se via. Isso porque ele não se sentia mais um ser com identidade, uma vez que sua alma se deixou levar pela vaidade e se encapsulou naquela farda e no prestígio que recebia por possuí-la. Então, numa atitude desesperada por se sentir alguém, vestiu a farda e voltou a se olhar no espelho. 
Funcionou! Ele consegui se enxergar! Sentiu-se alguém de novo, sentiu a pessoa na qual ele se reduziu a ser: um alferes, um fardado, que se alimenta de engrandecimentos e glórias que a sociedade oferece a que possui sua patente.
Nesse conto Machado desnuda a alma humana, mostra como ela pode ser mesquinha, podre, de identidade frágil, contraditória e, sobretudo vaidosa. É super encantador a forma como Machado de Assis constrói o perfil  de suas personagens e põe aos avessos a sua alma que sempre está lodacenta e ávida por mais e mais lama.
Espero que você tenha gostado. Essas palavras são um pouco da minha leitura sobre esse conto maravilhoso. Há algumas mais questões que eu não falei aqui, mas que estão no meu comentário em vídeo, em meu canal do youtube LER PARA CRER. Clique abaixo e assista, inscreva-se no canal, curta, compartilhe, sinta-se à vontade.








Um abraço,
Paty Andrade.









domingo, 22 de janeiro de 2017

Análise do conto "Um padre na família", de Tóibin Colm

  
Este conto pertence ao livro Mães e filhos, uma proposta bem pensada do autor irlandês. Com esse livro ele tenta desconstruir o enfoque dado somente às relações entre pais e filhos na literatura, colocando em evidência as questões das mães na família, sobretudo sua relação com seus filhos. E este conto traduz com maestria essa interação, dando espaço para que o leitor acesse o comportamento de uma mãe diante da descoberta de que seu filho, que é padre, será julgado por ter cometido abuso sexual contra adolescentes, anos atrás.
O título, de início, faz o interlocutor concluir que o conto falará especificamente da vida de um padre, mas a partir do primeiro parágrafo tem-se a imersão no mundo interior da mãe do padre, Molly. Ela é uma mulher idosa e, pelos sinais do enredo, tem uma vida relativamente confortável materialmente.
A visita que Molly recebeu do padre Greenwood abre o conto e um mistério logo é posto em cena, o real motivo da visita. Mesmo sem saber do que se trata, o leitor já recebe um sinal do narrador indicando o suspense sobre a misteriosa visita do padre Greenwood, logo na primeira linha: “Ela viu o céu escurecer, ameaçando chuva”. Há uma dupla interpretação nessa passagem, esse “escurecer” pode indicar o estado interno de Molly, seu mundo interior estava prestes a desmoronar.
Quando ela descobre, através do padre Greenwood, que seu filho será julgado por ter cometido abuso sexual, não se percebe nela nenhuma reação de vergonha cristã ou desespero, pois ela não professava a mesma crença do filho: “Ele reza por mim, eu sei disso, e eu também rezaria por ele, se acreditasse em preces, mas não tenho certeza se acredito. Mas nós já conversamos sobre isso, o senhor está a par de tudo. ”
Por outro lado, sua perplexidade reside no fato de que todos (suas filhas e a sociedade) já sabiam do que estava acontecendo, menos ela. Sua chateação maior é por ter sido a última a saber: “A cidade toda está sabendo? É verdade isso? A única pessoa que não sabe de nada é a velha aqui? Vocês todos me fizeram de palhaça! ”. Além disso, o que choca o leitor é perceber que ela age com tamanha frieza ao saber da notícia, não expressando nenhum tipo de sofrimento pelo que acabava de descobrir a respeito de seu filho:
“Ele vai ser julgado, Molly. ”
“Abuso? ” Ela disse a palavra que todos os dias surgia nos jornais e na televisão, acompanhada de imagens de padres ocultando a cabeça para não serem reconhecidos por ninguém, saindo algemados dos tribunais. “Abuso? ”, perguntou de novo.  
As mãos do padre Greenwood estavam tremendo. Ele fez que sim com a cabeça.
“É sério, Molly. ”
“Na paróquia? ”, perguntou ela.
“Não”, respondeu ele, “na escola. Já faz tempo. Foi na época em que ele era professor. ”

            Percebe-se que sua revolta de dá pelo fato de ter sido a última a saber e não pela vergonha deter um filho pedófilo. Na verdade, em nenhum momento ela demonstra pesar e não expressa questionamentos sobre onde poderia ter errado na criação do filho, o que comumente acontece com as mães que descobrem erros graves cometidos por seus filhos. Molly não se sente desesperada nem demonstra sofrimento aparente, mas se preocupa, antes de tudo, com a sua imagem diante das pessoas, uma vez que vive numa cidade pequena onde qualquer notícia tem uma enorme repercussão.           
Quando Molly recebe a visita de suas duas filhas, as quais tentar convencê-la a fazer uma viagem para se ausentar da cidade no período em que acontecerá o julgamento, percebe-se sua postura de frieza e indiferença diante do que as filhas lhe estão propondo. Ela se nega a se ausentar da cidade para não chamar mais a atenção para a pessoa dela. A partir do momento eu que fica sabendo da notícia, Molly se esforça para manter o comportamento mais natural possível:
O padre só foi embora quando ela insistiu para que fosse. Conferiu no jornal o que iria passar na tevê à noite e fez seu jantar como se fosse uma segunda-feira normal e ela pudesse relaxar. Pôs menos leite que de hábito no chá pelando e obrigou-se a tomá-lo, provando a si mesma que podia fazer qualquer coisa dali em diante, enfrentar qualquer coisa.

E sair da cidade justo nesse momento tão polêmico para a sua família poderia representar para os demais que ela está assumindo que está tão abalada que precisou sair da cidade para não sofrer com o julgamento do filho.
Seu diálogo com as filhas demonstra que estas são quem estão mais abaladas com a notícia. Molly demonstra estar firme no propósito de ficar firme até que passe esse momento de tensão na família: “Enquanto for inverno, eu me viro”. Disse Molly. Há aí uma comparação dessa fase ruim a uma estação. Essas palavras de Molly dizem muito ao leitor sobre seu estado emocional, ela compara esse momento ruim com uma fase, dando a esse sofrimento pelo qual passa sua família um caráter sazonal, logo, passageiro.
Durmo até tarde, de manhã, e me mantenho ocupada.  É o verão que eu receio. Não sou das que sofrem daquela tal doença que dá quando não tem claridade. Mas morro de medo dos longos dias de verão, em que acordo ao amanhecer e fico remoendo as coisas mais sombrias do mundo. Ah, as coisas mais sombrias! Mas até o verão chegar, tudo bem.

            Esse fragmento permite perceber que Molly sofre sim com o que está acontecendo, mas compara essa dor a uma dor passageira e se dispõe a ser forte até que essa maré ruim passe.
Outro momento interessante é quando recebe a visita de Frank, seu filho. Ela se portou com tamanha frieza e não tocou no assunto nem fez perguntas, muito menos quis saber o que, de fato, o levou a fazer tudo aquilo. Pelo contrário, ela se manteve fria em todo o momento, pensativa, sem muita reação, se esforçando para fazer tudo como se nada estivesse acontecendo.
Porém, mesmo tentando demonstrar naturalidade em seus gestos (preparando café, colocando a manteiga na mesa, pegando a geleia), o narrador dá os indícios de ela não estava tão alinhada assim emocionalmente:
Molly percebeu que não tinha posto a manteiga na mesa. Levantou e foi até a geladeira buscar. ”
Ela estendeu a mão para pegar a geleia de laranja, que já estava na mesa.
Ela não tomou o chá nem comeu a torrada.
Ela pôs a mão na xícara; o chá continuava quente. ”
Essas passagens falam muito do seu estado emocional, ainda que não demonstrasse claramente ao seu filho.
O último parágrafo do conto demonstra o seu profundo estado reflexivo e Molly demonstra, com suas atitudes e expressões, seu estado emocional.
Ela não se levantou da cadeira enquanto não ouviu o barulho do motor do carro.  Foi até a janela e ainda o viu dando ré e virando, tomando cuidado, como sempre, para não passar por em cima da grama. Ficou na janela enquanto ele partia; ficou ali até que o ruído do carro morresse ao longe.

Talvez ela tivesse dentro de si questionamentos acerca da atitude criminosa do filho, mas preferiu guardar para si todas as suas conjecturas para não parecer abalada, uma vez que lhe interessava mais demonstrar naturalidade diante de todo o vendaval pelo qual sua família estava passando.
Essa possibilidade de existência de questionamentos é sutilmente percebida na frase “[...] ainda o viu dando ré e virando, tomando cuidado, como sempre, para não passar por em cima da grama. ”. Essas palavras mostram que ela reconhece algo de bom e cuidadoso no caráter de Frank em sua atitude de tomar cuidado para não machucar o gramado, para não violar algo intacto e que possui vida (plantas são seres vivos!). Essas palavras podem sinalizar o questionamento dela acerca do porquê de ele ser um homem bom, cuidados com os outros e ainda assim fazer algo tão hostil.
Assim, esse conto mostra, de forma linda e interessante, o mundo interior de uma mãe que se decepciona com seu filho mesmo sem demonstrar claramente essa decepção. O leitor se vê diante de um desafio de decifrar cada passagem, no esforço de capturar nas entrelinhas e no obscuro de cada palavra os indícios que apontam o estado de espírito e emocional da personagem. E perceber todo esse movimento do narrador é, sem dúvida, uma experiência instigante e fascinante.
  


REFERÊNCIAS

TOIBIN, Colm. “Um padre na família”. In: Mães e filhos. Tradução Beth Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Édipo rei e o leitor: uma relação misteriosa

 A narrativa de Édipo Rei traz em si um tom de suspense que prende o leitor. Ela já se inicia com um problema exposto e em seu grau máximo de complexidade: a peste e a onda de mortandade que assolam a cidade de Tebas. A partir da leitura dessas primeiras linhas, sabe-se que é certo o encontro, no desenrolar do enredo, com situações adversas e enigmáticas.
Quando Creonte volta de Delfos com a resposta do Oráculo, Édipo se põe angustiado e ansioso pelo que tem a ouvir e um certo temor do que não se sabe paira na narrativa. Depois de receber a mensagem do Oráculo, o rei Édipo assume uma postura de homem íntegro e justo: jura extirpar o mal que assola aquela terra, compromete-se a encontrar o assassino de Laios e a matá-lo. Nesse ponto da trama vê-se o quão esse rei é comprometido com as causas de seu povo e uma imagem de sua pessoa é traçada para o leitor. Conhece-se um homem dotado de grande carisma, de bom caráter e comprometido com o cumprimento de sua palavra.
Pois eu vou começar tudo de novo
E uma vez mais esclarecer as coisas.
Fez bem o deus, e tu fizeste bem,
Tirando o morto deste esquecimento:
Mais um serviço prestarei, assim,
Vingando a ofensa feita ao deus e a Tebas (SÓFOCLES, 1980).

Após   surgir a ideia de que Édipo seria o tal assassino que trouxe a peste a Tebas, é produzido no leitor um pesar pela sorte que foi traçada para o rei que, antes de ser revelado como o assassino que matou a Laios, já havia conquistado a simpatia do leitor com suas palavras e postura de homem íntegro. Isso despertou no leitor, respectivamente, o carisma, a benevolência e a pena.
A expectativa revestida de suspense se consolida quando Tirésias revela a Édipo que ele é o assassino de Laios e responsável pela maldição que pesa sobre Tebas.
É isso? Então ouve:
Sobre a tua cabeça pende o anátema
Que teus lábios lançaram!
Daqui em diante
Não tornes mais a me falar, nem aos presentes,
Pois tu és a maldição que pesa sobre Tebas! (SÓFOCLES, 1980).

            Nesse momento se fortalece a noção do leitor sobre ser mesmo Édipo o assassino do rei Laios e o responsável pela desgraça que assola a cidade de Tebas. A partir dessa cena o leitor começa a sofrer junto com Édipo a dor da busca por respostas e do caminho amargo para descobrir toda a verdade sobre sua verdadeira identidade.
            Depois que Jocasta lhe conta da profecia que Laios recebera do Oráculo, a qual dizia que ele morreria pelas mãos do próprio filho e que foi morto numa encruzilhada, Édipo começa a ter suas primeiras impressões acerca de sua familiaridade com essa situação. Porém, a essa altura, ele ainda pensa que pode, talvez, ter matado o rei, mas ainda não se dá conta de que ele é o próprio filho de Laios e marido da viúva deste.
            Aqui o leitor já se deu conta de que Édipo é esse assassino-filho e começa a trilhar com ele o caminho do autodescobrimento. O leitor sabe a verdade, mas o personagem ainda não. Essa situação invertida de sapiência dos fatos confere à obra peculiaridade relevante, pois uma narrativa na qual não é o leitor que descobre a verdade no desenvolver da leitura, mas sim o personagem, transmite uma sensação de leitura interessante e prazerosa, pois o leitor sai do lugar de desbravador para o lugar de “espectador onisciente”.
            Édipo sofre muito enquanto vai descortinando os véus do mistério de sua identidade genética. Quando descobre, na verdade quando ele percebe toda a verdade que, subliminarmente, já havia se revelado, se vê tomado pelo pavor do (re) conhecimento de si.
Horror! Horror! Horror!
Tudo verdade!
Luz do dia, eu não quero mais te ver!
Filho maldito... marido maldito...
Maldito assassino do próprio pai! (SÓFOCLES, 1980).
           
Jocasta não suporta a descoberta de que casara com seu próprio filho, então entra no palácio e se mata. Depois de encontrar a esposa morta, Édipo fura os próprios olhos numa atitude de negação da realidade, na verdade de não aceitação daquela imagem que se lhe apresentava. Ele não suportaria viver tendo que olhar para sua mãe, a qual desposou e lhe gerou filhos. Esse momento-ápice do suspense, nessa narrativa, leva o leitor a um estarrecimento com o fim que teve Édipo, que foi mais castigado do que se tivesse sido morto. Pelo menos, a morte cessaria a sua dor de ser quem é e de ter feito o que fez, mesmo sem saber. E permanecer vivo significaria ter que conviver com a dor constante de estar morto por dentro e ter que agonizar a sua cina por atitudes ignorantes a ele e previstas pelos deuses.
A obra Édipo Rei fascina o leitor e lhe fala muito acerca do perigo da obstinada sede pela verdade. Uma trama costurada por surpresas e mistérios proporciona ao leitor momentos de reflexão profunda sobre o que não se pode esperar da tradução do verdadeiro significado identitário de cada um.

SÓFOCLES. Édipo Rei (430 AC). Tradução de Geir Campos. Abril: São Paulo, 1980. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A casa dos budas ditosos - João Ubaldo Ribeiro

Oie! Neste vídeo eu comento algumas questões no livro A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, também nomeado de Luxúria, um dos 7 pecados capitais. Essa narrativa em primeira pessoa é carregada de oralidade, bom humor, bom sarcasmos, ironias e críticas de vários âmbitos. Eu AMEI a leitura e espero que vocês gostem também, sobretudo do vídeo.

Deixe nos comentários a sua impressão desse livro, eu adorarei trocar figurinhas com você!



Um beijo e não se esqueça de se inscrever no canal, de dar um like e de compartilhar com seus amigos se você gostou.

Assista também:

Lolita - Vladimir Nabocov

Unboxing - meu primeiro kit TAG - Experiências literárias


O amante do comandante - Mia Couto (conto)

Meu primeiro kit da TAG Experiências literárias

Oi, gente! Estou MUITO feliz com meu primeiro kit  da TAG Experiências literárias. O livro é muito bom, a capa dura e personalizada, o box, a revista, o mimo, tudo maravilhosoo!! E, claro, narrativa em primeira pessoa, eu adOro! Ehehe


Você já é associado do clube TAG? Se sim, deixe seu comentário sobre sua experiência, eu adorarei ler sobre.

Você já leu esse livro? Gostou? O que achou? Me conta aí, vai!

Assista também:

Lolita - Vladimir Nabocov

O amante do comandante - Mia Couto (conto)

A casa dos budas ditosos - João Ubaldo Ribeiro

Lolita, de Vladimir Nabocov

Nesse vídeo eu comento a leitura de Lolita, de Vladimir Nabocov, escritor russo. Esse livro é uma obra-prima da literatura do século XX e teve uma repercussão bastante polêmica. De uma narrativa cheia de sentidos, Vladimir Nabocovov fascina o leitor com sua brilhante capacidade de combinar as palavras e produzir percepções inimagináveis no leitor. Ele nos faz ler com olhos que não sabíamos que tínhamos.

Se você gostou, se inscreva no meu canal, favorite e dê um gostei no vídeo. 
                                                                 
◉◉ Vale muito a pena ler! ◉◉

Livro em pdf, epub e mobi

Link do filme completo e legendado (não tem a cena do sofá)

Link da cena do sofá (sem legenda)

 Filme que eu assistia, no Netflix, quando tive o primeiro contato com Lolita

 Assista também:

Unboxing - meu primeiro kit TAG - Experiências literárias

O amante do comandante - Mia Couto (conto)

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (Mia Couto)




Mia Couto - O amante do comandante

Oie! Nesse vídeo eu trago o conto de Mia Couto O amante do comandante, que está no livro Na berma de nenhuma estrada. Espero que gostem e deixem seu comentário aqui.



Mia Couto - O cego Estrelinho

Nesse vídeo eu comento o conto de Mia Couto O cego Estrelinho, que está em seu livro Estórias Abensonhadas. Deixe seu comentário e se inscreva no canal se gostou!




Mia Couto - O arroto de Dona Elisa

Oi! Oi! Nesse vídeo eu trago a leitura do conto de Mia Couto O arroto de Dona Elisa, que está no livro Na berma de nenhuma estrada. Esse conto é muito interessante pela carga sentimental, existencial e cômica que traz a narrativa. Se você gostou, deixe nos comentários a sua opinião. Se inscreve no canal também!



Beijo!

Terra Sonâmbula - Mia Couto

Nesse vídeo eu trago um pouquinho da minha impressão sobre o livro de Mia Couto Terra Sonâmbula. Peço desculpas, pois estou muuuito gripada, meio letárgica, sem forças na voz, mas gravei assim mesmo, por amor e compromisso. Espero que gostem. Não se esqueçam de compartilhar o vídeo e de se inscrever no canal.


Um beijo!
Paty.

Mia Couto - Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Bom dia!

 Hoje eu trago mais uma análise de uma obra de Mia Couto,  que é do livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.

https://youtu.be/NDJPBFORwwc


Não se esqueçam de se inscrever no canal se você gostou do vídeo. :)

Um beijo!
Paty.

O último voo do flamingo - Mia Couto

Oi, gente!

Nesse vídeo eu trago minha primeira leitura do canal sobre Mia Couto que é o livro O último voo do flamingo. Espero que gostem. Não se esqueçam de se inscrever no canal e de compartilhar com os amigos.





Um beijo e não se esqueça de se inscrever no canal, de dar um like e de compartilhar com seus amigos se você gostou.

Você já leu esse livro? Deixe aqui seu comentário!

Beijos!
Paty.




quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mais devastadores que gritos ao vento
São goles de silêncio sofridos
Que como sementes ferventes
Fecundam turbulências homicidas
Antes a voz, ainda que sem ouvidos.

``Andrade

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Identidade

Hoje o dia é cinza
Dia de crise
A angústia que balança a minha alma
Faz de meu ânimo pêndulo
Não tentarei mais escoá-la
Talvez ela seja parte necessária à manutenção do meu interior tão assim como ele é
 Tão ele
 Tão eu

domingo, 8 de junho de 2014

Tiro no pé

Queria ser sufocada pelas palavras
Tomada, traduzida, embebedada.
Queria palavras que ao serem escritas, puxassem as raízes azedadas.
Bem que ela poderiam me levar em seu lombo,
ao menos indicar quais trilhas tomar
Como irei se pernas tenho e caminhos não?
Onde estão as placas?
Onde ficou a bússola?
A minha se perdeu, talvez nunca tenha existido.
Tudo vaza por entre os dedos...
Não consigo fechá-los.
Perdição

Há dor,
Há delícia,
Há em mim os extremos da introspecção.
Que linha tênue é a que distingue onde começam e terminam o começo e o fim?
Quero mudar meus olhos
Minhas lentes estão embaçadas
Vejo precipício na fissura
As lentes já não me servem, então.
Pior do que não ter pernas para caminhar
É tê-las, saber aonde quero chegar
E não saber como fazer o caminho direto e certo.
Se erro a rota, me perco
Se me perco, perco tudo o que sou
Ou o que fui.

Andrade

terça-feira, 3 de junho de 2014

Alea jacta est

Não é fácil compreender que viver é um constante escolher. Ao longo de subidas e descidas de degraus, aprendi que a paz é um excelente termômetro de escolhas. Fazer o que o coração sugere que seja o melhor faz-se prioridade quando percebo que disso depende minha paz de espírito. Viver em função de desejos alheios não é inteligentemente saudável. Desisti de seguir os princípios construídos por outros para mim e resolvi construir as minhas próprias trilhas. Não levada por um ímpeto de rebeldia ou transgressão, mas por respeito à minha natureza, ao que sou enquanto ser humano e social, enquanto mulher e cumpridora do compromisso que assumi com minha inteireza. Experimento a seriedade de saber ser quem sou, a seriedade de dar, com convicção, cada passo em meu caminho. Não me arrependo de nenhuma escolha feita. Deixei nas últimas pegadas as ansiedades tendenciosas e vícios torpes de pensamentos. Decidi lapidar o que sou, aceitar o que não posso mudar e fazer bem feito o que ficou por realizar. Escolhi depositar no pretérito o que me afligiu até aqui. A vida é muito breve e frágil para suportar pesos desnecessários. Esquecendo-me das coisas que atrás ficam, avanço para as que diante de mim estão. E mesmo que eu não viva para tocá-las, elas já se fizeram contempladas em mim. Escolhi escolher sempre o que me proporciona paz. Há beleza na vida presente, em cada pétala de existir, e é do ar puro desse jardim que decido me nutrir: do que ainda há de humano nesse mundo e do lado bom das escolhas. Se amadurecer tem suas penas, prefiro pensar que o que ficou na fissura da escolha é matéria-prima para novos teceres. E é na brecha que quero sempre estar: na liberdade de poder escolher o que me devolve a mim.



terça-feira, 20 de agosto de 2013






Há sempre um sentido para o choro, para uma resposta ríspida, uma palavra recebida que machuca. Na tensão não se cruza as pernas por cruzar, não se coça a cabeça por coçar. Vivemos dando sinais a todo tempo e eles precisam ser notados. Há pedidos de socorro no silêncio, há textos a serem lidos em olhares. Este mundo não nos ensina a enxergar o que há nas entrelinhas. Apenas nos programa para sobrevivermos até que a morte avise que é o fim do jogo. Estamos todos tão perto, mas separados por uma espessa linha de incompreensão e frieza. Infelizmente, o legalismo que nos governa é este: Os motivos se vão, fica o que se faz.


Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca
(Marisa Monte - Gentileza)

domingo, 4 de agosto de 2013

quarta-feira, 31 de julho de 2013



Não compreendo como você conseguiu entrar sem reparar nas placas de atenção
Eu não permiti que viesse com tamanha intensidade
Eu não dei permissão para  seu sorriso revirar as folhas da minha alma
Eu não disse que você poderia ir tão fundo
E pior, esqueci de dizer que não era bom você partir

Ainda não vi seus olhos de verdade
Sinto a perda do que não vivi
Cada palavra sua se repete em meus ouvidos cobrindo terceiras palavras
Sua presença é tão viva que me questiono se deveria mesmo ter partido
Seu medo foi maior que o não acaso

Teus sorrisos ainda me fazem sorrir
Teus olhos ainda arrancam uma lágrima dos meus
Agora tento administrar a sua ausência
E entre palavras, canções, decisões e lembranças, me ocupo de varrer-lhe para o lugar onde você escolheu morar: no meu passado.

terça-feira, 30 de julho de 2013

CoiSas MinHas... Que Eu TamBém Não EnteNdo



Você nunca vai saber de verdade
Você nunca vai me ver como eu realmente sou
Você não sabe me ver

Todo bobo ama de um jeito diferente do seu
Todo bobo ama com mesma intensidade com que sofre...
E sofre com a mesma intensidade com que ama...
Eu, particularmente gosto de ser boba...
Só não gosto de ser sua.

Estou me preservando
E você não é parte das coisas que me fazem bem...

Mas você nunca vai me ver com eu realmente sou...
Você não sabe me ver...
Você nunca vai saber de verdade.

May Lima

domingo, 23 de junho de 2013

Linha de passe



Você foi o tipo de pessoa que fez as chagas do meu eu virem à luz e provocarem toda a desordem que está agora feita. Entendi que não há culpados no fracasso de relações, mas sim incompatibilidade de fatores. Foi com você que, sem decidir, pude enxergar com nitidez defeitos e traços meus não percebidos com veemência anteriormente. Li em algum lugar que as pessoas ficam em nossas vidas o tempo necessário para aprendermos alguma coisa com aquela relação. Entendi que você ficou sim o tempo necessário e que o que precisei ver em mim, eu consegui ver. Não por você, mas pelo tipo de relação que tivemos e a forma como tratamos os sentimentos que nasceram, e que matamos com mãos próprias. Difícil é aceitar que a mudança é a lei da vida, mas é graças a essa lei que a felicidade pode ser sempre alcançada. As dores são necessárias ao crescimento e a melhor forma de passar pelo sofrimento é assumir o incômodo da ferida e fazer a parte que me cabe para fazer a dor doer cada vez menos, até ser princípio de paz. Passarei por essa prova de fogo, não inédita, mantendo os olhos no alvo, no pote de ouro no fim do arco-íris, na paz de espírito e  na possibilidade de amar novamente, que chegam ao fim de cada sofrimento. Espero, então, pelo fechamento da ferida, pela calmaria que está por vir, pelo meu eu aprimorado ao fim de mais uma fase de crescimento e desapego doído. E o nosso “pra sempre”? Mais uma descoberta eu fiz: o pra sempre acaba sempre. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Ao Desespero


Quando minha imunidade emocional está em baixa, você vem com força e revira as dobras da minha alma. Como consegue fazer tamanho tumulto dentro de um só corpo? Quando estou feliz, a paz reina por dentro. O mar do Pontal é mais cintilante, o Sol dá brilho aos meus cabelos e minhas obrigações são ocupações úteis, dadas a mim pelo divino e para minha dignidade. Deveras, quando a dor me atinge, você não titubeia, penetra-me com pressa e trata de se fazer notável. Saudades oscilantes, angústia que sufoca até irromper em lágrimas de sofreguidão. Músicas colocam a chaga à mostra. Lembranças martelam e passam como um filme pela casa e em cada objeto que possui marcas de alguém. Você, Senhor Desespero, tem me feito padecer em aflições de espírito, em divagações e desconcentrações do que me é essencial à vida social e particular. Por sua causa, o esforço que tenho feito para ficar bem sempre é dobrado. O senhor tem me colocado em situações constrangedoras comigo mesma, uma vez que me faz sentir desejos de suplicar um amor que não mais existe, e se existe, não é mais destinado a mim. Como pode fazer-se tão presente quando menos eu preciso de sua presença? Vá embora! Devolva-me o sono, o encanto de sorrir e a esperança nos sonhos que ofuscados foram. Faça-me o favor de não estar mais aqui quando amanhã eu acordar. Quero abrir os olhos e escutar os pardais no quintal do vizinho. Quero pegar o celular e não pensar nas ligações que não recebo mais. Quero terminar o dia com a velha e gostosa sensação de deveres cumpridos. Quero a paz que me dá a força para crer em novos amores. Quero que, enquanto eu estiver dormindo, você reúna todos os seus dardos e parta para bem longe, vá embora, devolva-me a mim. E, se ainda tiver espaço em sua mala, leve consigo esse sentimento que em mim ainda arde, mas que inútil se fez. E que este seja o último Adeus.















quarta-feira, 6 de março de 2013


Acomodação nossa de todo dia



Parte de humanidade tão miserável é a acomodação
A dívida mal paga
A resposta que não demos por medo
 O não guardado
A insistência na esperança de que alguém vai mudar
O vício de se machucar
A perseverança no que não tem amanhã
Não se acomode com o que incomoda!
É o que ouvimos e não praticamos
E, como num ritual fora da consciência,
Seguimos nos acomodando
Nos habituando
Nos matando
Morrendo
Nos enterrando
E haverá sempre o outro
O que moverá a última pá.