domingo, 23 de junho de 2013

Linha de passe



Você foi o tipo de pessoa que fez as chagas do meu eu virem à luz e provocarem toda a desordem que está agora feita. Entendi que não há culpados no fracasso de relações, mas sim incompatibilidade de fatores. Foi com você que, sem decidir, pude enxergar com nitidez defeitos e traços meus não percebidos com veemência anteriormente. Li em algum lugar que as pessoas ficam em nossas vidas o tempo necessário para aprendermos alguma coisa com aquela relação. Entendi que você ficou sim o tempo necessário e que o que precisei ver em mim, eu consegui ver. Não por você, mas pelo tipo de relação que tivemos e a forma como tratamos os sentimentos que nasceram, e que matamos com mãos próprias. Difícil é aceitar que a mudança é a lei da vida, mas é graças a essa lei que a felicidade pode ser sempre alcançada. As dores são necessárias ao crescimento e a melhor forma de passar pelo sofrimento é assumir o incômodo da ferida e fazer a parte que me cabe para fazer a dor doer cada vez menos, até ser princípio de paz. Passarei por essa prova de fogo, não inédita, mantendo os olhos no alvo, no pote de ouro no fim do arco-íris, na paz de espírito e  na possibilidade de amar novamente, que chegam ao fim de cada sofrimento. Espero, então, pelo fechamento da ferida, pela calmaria que está por vir, pelo meu eu aprimorado ao fim de mais uma fase de crescimento e desapego doído. E o nosso “pra sempre”? Mais uma descoberta eu fiz: o pra sempre acaba sempre. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Ao Desespero


Quando minha imunidade emocional está em baixa, você vem com força e revira as dobras da minha alma. Como consegue fazer tamanho tumulto dentro de um só corpo? Quando estou feliz, a paz reina por dentro. O mar do Pontal é mais cintilante, o Sol dá brilho aos meus cabelos e minhas obrigações são ocupações úteis, dadas a mim pelo divino e para minha dignidade. Deveras, quando a dor me atinge, você não titubeia, penetra-me com pressa e trata de se fazer notável. Saudades oscilantes, angústia que sufoca até irromper em lágrimas de sofreguidão. Músicas colocam a chaga à mostra. Lembranças martelam e passam como um filme pela casa e em cada objeto que possui marcas de alguém. Você, Senhor Desespero, tem me feito padecer em aflições de espírito, em divagações e desconcentrações do que me é essencial à vida social e particular. Por sua causa, o esforço que tenho feito para ficar bem sempre é dobrado. O senhor tem me colocado em situações constrangedoras comigo mesma, uma vez que me faz sentir desejos de suplicar um amor que não mais existe, e se existe, não é mais destinado a mim. Como pode fazer-se tão presente quando menos eu preciso de sua presença? Vá embora! Devolva-me o sono, o encanto de sorrir e a esperança nos sonhos que ofuscados foram. Faça-me o favor de não estar mais aqui quando amanhã eu acordar. Quero abrir os olhos e escutar os pardais no quintal do vizinho. Quero pegar o celular e não pensar nas ligações que não recebo mais. Quero terminar o dia com a velha e gostosa sensação de deveres cumpridos. Quero a paz que me dá a força para crer em novos amores. Quero que, enquanto eu estiver dormindo, você reúna todos os seus dardos e parta para bem longe, vá embora, devolva-me a mim. E, se ainda tiver espaço em sua mala, leve consigo esse sentimento que em mim ainda arde, mas que inútil se fez. E que este seja o último Adeus.