Você
foi o tipo de pessoa que fez as chagas do meu eu virem à luz e provocarem toda
a desordem que está agora feita. Entendi que não há culpados no fracasso de
relações, mas sim incompatibilidade de fatores. Foi com você que, sem decidir,
pude enxergar com nitidez defeitos e traços meus não percebidos com veemência
anteriormente. Li em algum lugar que as pessoas ficam em nossas vidas o tempo
necessário para aprendermos alguma coisa com aquela relação. Entendi que você
ficou sim o tempo necessário e que o que precisei ver em mim, eu consegui ver.
Não por você, mas pelo tipo de relação que tivemos e a forma como tratamos os
sentimentos que nasceram, e que matamos com mãos próprias. Difícil é aceitar
que a mudança é a lei da vida, mas é graças a essa lei que a felicidade pode
ser sempre alcançada. As dores são necessárias ao crescimento e a melhor forma
de passar pelo sofrimento é assumir o incômodo da ferida e fazer a parte que me
cabe para fazer a dor doer cada vez menos, até ser princípio de paz. Passarei por
essa prova de fogo, não inédita, mantendo os olhos no alvo, no pote de ouro no
fim do arco-íris, na paz de espírito e na possibilidade de amar novamente, que chegam
ao fim de cada sofrimento. Espero, então, pelo fechamento da ferida, pela
calmaria que está por vir, pelo meu eu aprimorado ao fim de mais uma fase de
crescimento e desapego doído. E o nosso “pra sempre”? Mais uma descoberta eu fiz: o pra sempre
acaba sempre.
domingo, 23 de junho de 2013
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Ao Desespero
Quando minha imunidade
emocional está em baixa, você vem com força e revira as dobras da minha alma.
Como consegue fazer tamanho tumulto dentro de um só corpo? Quando estou feliz,
a paz reina por dentro. O mar do Pontal é mais cintilante, o Sol dá brilho aos
meus cabelos e minhas obrigações são ocupações úteis, dadas a mim pelo divino e
para minha dignidade. Deveras, quando a dor me atinge, você não titubeia,
penetra-me com pressa e trata de se fazer notável. Saudades oscilantes,
angústia que sufoca até irromper em lágrimas de sofreguidão. Músicas colocam a
chaga à mostra. Lembranças martelam e passam como um filme pela casa e em cada
objeto que possui marcas de alguém. Você, Senhor Desespero, tem me feito
padecer em aflições de espírito, em divagações e desconcentrações do que me é
essencial à vida social e particular. Por sua causa, o esforço que tenho feito para ficar bem sempre é dobrado. O senhor tem me colocado em situações
constrangedoras comigo mesma, uma vez que me faz sentir desejos de suplicar um
amor que não mais existe, e se existe, não é mais destinado a mim. Como pode
fazer-se tão presente quando menos eu preciso de sua presença? Vá embora! Devolva-me
o sono, o encanto de sorrir e a esperança nos sonhos que ofuscados foram. Faça-me
o favor de não estar mais aqui quando amanhã eu acordar. Quero abrir os olhos e
escutar os pardais no quintal do vizinho. Quero pegar o celular e não pensar
nas ligações que não recebo mais. Quero terminar o dia com a velha e gostosa
sensação de deveres cumpridos. Quero a paz que me dá a força para crer em novos
amores. Quero que, enquanto eu estiver dormindo, você reúna todos os seus
dardos e parta para bem longe, vá embora, devolva-me a mim. E, se ainda tiver
espaço em sua mala, leve consigo esse sentimento que em mim ainda arde, mas que
inútil se fez. E que este seja o último Adeus.
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