quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um Novo Lar Para Jady


Não é que falar da dor de outros seja mais fácil. Mas, falar da nossa não é menos difícil. Há dias venho condicionando a mente à idéia de que precisava dar a minha cadelinha a uma família que a amasse e cuidasse. Este momento chegou. Como já esperava, foi uma separação sofrida para mim. Não suportava mais ter que deixá-la sozinha, trancada neste apartamento, enquanto eu ia ao trabalho e à faculdade. O tempo que passávamos juntas era muito pouco e só tínhamos uma à outra. O aperto no coração só aumentava. Cachorros filhotes gostam de brincar e de estar entre pessoas. Por mais que tivesse me apegado a ela, desejava que vivesse no lar de uma família mais numerosa, numa casa com muito espaço para que se divertisse e pessoas que pudessem dar a atenção de que precisava. Quando a nova dona chegou, a hora da dor veio em parceria. A alegria da menina em ter um cachorrinho me confortava. Suas explicações de como costumava cuidar de animais também. Jady estará em boas mãos, pensei. Entreguei minha branquinha à garota, juntamente com sua ração e milhares de recomendações. Afaguei-a num gesto de despedida e a vi se distanciar, num colo que não era o meu. Num imenso esforço, contive as lágrimas enquanto ela se afastava me olhando de uma forma interrogativa. Fechei a porta, subi as escadas chorando, mas aliviada porque ela teria, a partir dali, uma pessoa que possuía tempo de sobra para cuidar e brincar com ela. Entrei em casa e comecei a limpar sua infantil bagunça do dia, de seu último dia nesta casa. Mesmo com a certeza de que fiz o sacrifício para garantir seu bem-estar, o pranto não cessava. Voltei à velha e insuportável solidão, mas dela livrei a minha eterna Jady.