sexta-feira, 27 de abril de 2012


 

Classifico-te medonha não porque tuas primaveras já se vão às sêxtuplas décadas, mas por teu humor estar em constante desgosto com a vida. Quem te olha ao primeiro enxergar, se engana com tua aparência mística, de vestes brancas às sextas-feiras, as quais transmitem uma pseudopaz. Basta que verbalizes um pouco de teus pensamentos e logo se percebe o quanto a tua áurea é pesada e incita a antipatia.  Esse cabelo avermelhado, noutra pessoa, seria uma vaidade banal, só que em ti me faz pensar no diabo. Sim, neste que se eterniza no maniqueísmo das culturas e ao qual eu associo a tua rabugenta existência. És um ser neurótico, de olhares nefastos, língua ferina e presunção hipócrita. Resumir-te a isto é o máximo que consegues de minha pessoa ao fazer-me conhecer tua estranha personalidade. Medonha e horrenda. Levarei tua lembrança aos meus melhores futuros, como aquela que nunca se aposentava. A velha medonha da academia.  

terça-feira, 10 de abril de 2012

O padecer da vida

Tão logo nascemos em prática se põe, como numa sina, o verbo que este texto titula, além de substantivado estar. A imprevisibilidade da vida torna tão evidente a fragilidade da existência que faz nascer no humano a crença de que seria esta vida terrena a justificativa para uma vida subsequente,  eterna. Há os que põem sua esperança num futuro que trará, a pensar, tempos melhores. Outros criticam os entorpecentes gerados na vida social. Quem seríamos nós, mortais, aptos a dizer qual método de anestesiar a própria consciência é o menos agressor ou sadio? Em verdade, não há lições de moral ou testemunho de vida tão válidos que valham a pena o sacrificar-se para correr atrás de algo que não se sabe às claras o que é. Envelhecemos na corrida atrás do vento. Essa é a verdadeira ocupação criada e sofregamente perseguida por todos os racionais. As desgraças dos - rotulados - desafortunados tornam-se as mesmas dos que se julgam contemplados de uma acepção. O comedimento incorporado na vida social e necessário a ela apenas reforça a ideia de que o homem conhece tão pouco de si mesmo que prefere conter-se a desvendar seus verdadeiros significados. Viver e padecer. Nos bastidores são sinônimos. Se todos cegos fôssemos, talvez as coisas fossem o que verdadeiramente são. Começamos a morrer quando nascemos, vivemos um padecer. E morremos todos de morte igual, mesma morte severina: a morte que se morre de frieza ainda em vida, de cegueira sem escuro, de morrer um pouco por dia.