Havia saído de uma consulta médica e, na volta para casa, entrei num laboratório a fim de saber quanto me custariam alguns exames de sangue. Peguei a senha de atendimento e sentei-me na única cadeira disponível na sala de espera. Quanta gente, de várias cores e expressões.
Fixei meus olhos na recepcionista, que chamava cada um pelo seu número: Senha 22! Senha 23! Eu estava angustiada com a espera.
Fixei meus olhos na recepcionista, que chamava cada um pelo seu número: Senha 22! Senha 23! Eu estava angustiada com a espera.
Num de meus movimentos frenéticos de impaciência, percebi que ao meu lado esquerdo havia um rapaz que balançava a perna insistentemente. Fiquei me perguntando o que ele estaria sentindo naquela hora. Assim que comecei a refletir sobre seu comportamento aflito, pude ouvir a recepcionista chamá-lo a uma sala à parte, alegando que a médica desejava falar-lhe antes de liberar o resultado de seus exames.
Acompanhei, copiosamente, o seu deslocamento aos fundos da clínica e, depois de alguns minutos, ele voltou a sentar-se ao meu lado, agora com um comportamento bem mais aflito e angustiante. Assim que começou a chorar - sucumbindo emocionalmente enquanto processava a provável informação que recebera da médica ao telefone -, fui tomada por uma sensação de impotência e curiosidade de saber qual doença ele descobrira ter. Como gostaria de poder tocar-lhe as mãos e dizer que tudo ficaria bem... O seu desespero aumentava...
A recepcionista, enfim, entregou-lhe o envelope com os exames. Foi com lágrimas de pavor nos olhos e mãos trêmulas que ele recebeu, guardou-o na mochila e dirigiu-se lentamente até a porta. Pôs a mão na maçaneta, mas parecia não ter forças para movê-la. Respirou fundo, enxugou os olhos, reuniu forças e saiu no compasso de um relógio cansado de contar o tempo.
Fiquei me perguntando o que acontecia com ele... Teria descoberto que estava infectado pelo vírus HIV? Alguma doença grave? Sua existência e sua juventude estariam ameaçadas? Não sei. Provavelmente, jamais saberia. Talvez, em alguns dias, eu viesse a esquecer este momento. A única certeza que eu tinha era de que, para ele, sim, aquele instante seria inesquecível: o dia da notícia não desejada, o dia da dor.
Meus olhos permaneceram inertes, voltados para a porta... Senha 24! Era a minha vez.
Patrícia Andrade
Vc escreve bem. Parabéns!
ResponderExcluirTexto emocionante, não sabia que escondia um talento.
ResponderExcluirParabéns!
Realmente a curiosidade humana impera em todos os lugares e situações.
ResponderExcluirMuito bom.
Mas qual o resultado de exame dele?
ooo bela com é contagiante tua descrição.. bjooo
ResponderExcluirEu fiquei sem saber qual o resultado do exame. Só sei que não era nada bom!
ResponderExcluirBjus!
OI PATY SUCESSO AI NAS SUAS CRONICAS, LEGAL VIU, PARABENS
ResponderExcluirMANINHA, PARABÉNS! ESTOU ESTAPEFADO, NÃO, ATÔNITO! OU, COMO NO BOM BAIANÊS, ABESTADO MESMO. VOCÊ ESTÁ CONSEGUINDO O DOM DE MERGULHAR NO ÉTER FILOSÓFICO DO LUGAR CHAMADO "MOMENTO" E CONSEGUINDO DESCREVÊ-LO DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO E REFLEXIVO.
ResponderExcluirPARABÉNS!!!
SEU IRMÃO ABESTADO COM A SUPER IRMÃ.
BJS
rsrs..Brigada, Suel!!! Bjinhos!!
ResponderExcluirÉ sei bem o que é essa espera, está diante de um médico, esperando ouvir um sim, ou um não...A cerca da peste que é o HIV...
ResponderExcluirMuito bom, hilário! Não sei se foi intensional, mas o suspense não resolvido traz consigo uma pitada de comicidade. Parabéns!
ResponderExcluirNão foi por intenção. Depois que reli, achei a mesma coisa. rsrs
ResponderExcluirObrigada!
Mas.... o que realmente ele tinha?
No ar...
No ar...
No ar...
rrsrsrsrssrs
Bjuuuuuuus!!