quinta-feira, 24 de março de 2011

O Exame

Havia saído de uma consulta médica e, na volta para casa, entrei num laboratório a fim de saber quanto me custariam alguns exames de sangue. Peguei a senha de atendimento e sentei-me na única cadeira disponível na sala de espera. Quanta gente, de várias cores e expressões.
 Fixei meus olhos na recepcionista, que chamava cada um pelo seu número: Senha 22! Senha 23! Eu estava angustiada com a espera.
Num de meus movimentos frenéticos de impaciência, percebi que ao meu lado esquerdo havia um rapaz que balançava a perna insistentemente. Fiquei me perguntando o que ele estaria sentindo naquela hora. Assim que comecei a refletir sobre seu comportamento aflito, pude ouvir a recepcionista chamá-lo a uma sala à parte, alegando que a médica desejava falar-lhe antes de liberar o resultado de seus exames.
 Acompanhei, copiosamente, o seu deslocamento aos fundos da clínica e, depois de alguns minutos, ele voltou a sentar-se ao meu lado, agora com um comportamento bem mais aflito e angustiante. Assim que começou a chorar - sucumbindo emocionalmente enquanto processava a provável informação que recebera da médica ao telefone -, fui tomada por uma sensação de impotência e curiosidade de saber qual doença ele descobrira ter. Como gostaria de poder tocar-lhe as mãos e dizer que tudo ficaria bem... O seu desespero aumentava...
 A recepcionista, enfim, entregou-lhe o envelope com os exames. Foi com lágrimas de pavor nos olhos e mãos trêmulas que ele recebeu, guardou-o na mochila e dirigiu-se lentamente até a porta. Pôs a mão na maçaneta, mas parecia não ter forças para movê-la. Respirou fundo, enxugou os olhos, reuniu forças e saiu  no compasso de um relógio cansado de contar o tempo.
Fiquei me perguntando o que acontecia com ele... Teria descoberto que estava infectado pelo vírus HIV? Alguma doença grave? Sua existência e sua juventude estariam ameaçadas? Não sei. Provavelmente, jamais saberia. Talvez, em alguns dias, eu viesse a esquecer este momento. A única certeza que eu tinha era de que, para ele,  sim, aquele instante seria inesquecível: o dia da notícia não desejada, o dia da dor.
Meus olhos permaneceram inertes, voltados para a  porta... Senha 24! Era a minha vez.




Patrícia Andrade




11 comentários:

  1. Vc escreve bem. Parabéns!

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  2. Texto emocionante, não sabia que escondia um talento.
    Parabéns!

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  3. Realmente a curiosidade humana impera em todos os lugares e situações.
    Muito bom.
    Mas qual o resultado de exame dele?

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  4. ooo bela com é contagiante tua descrição.. bjooo

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  5. Eu fiquei sem saber qual o resultado do exame. Só sei que não era nada bom!
    Bjus!

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  6. OI PATY SUCESSO AI NAS SUAS CRONICAS, LEGAL VIU, PARABENS

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  7. MANINHA, PARABÉNS! ESTOU ESTAPEFADO, NÃO, ATÔNITO! OU, COMO NO BOM BAIANÊS, ABESTADO MESMO. VOCÊ ESTÁ CONSEGUINDO O DOM DE MERGULHAR NO ÉTER FILOSÓFICO DO LUGAR CHAMADO "MOMENTO" E CONSEGUINDO DESCREVÊ-LO DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO E REFLEXIVO.
    PARABÉNS!!!

    SEU IRMÃO ABESTADO COM A SUPER IRMÃ.
    BJS

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  8. É sei bem o que é essa espera, está diante de um médico, esperando ouvir um sim, ou um não...A cerca da peste que é o HIV...

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  9. Muito bom, hilário! Não sei se foi intensional, mas o suspense não resolvido traz consigo uma pitada de comicidade. Parabéns!

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  10. Não foi por intenção. Depois que reli, achei a mesma coisa. rsrs
    Obrigada!
    Mas.... o que realmente ele tinha?

    No ar...
    No ar...
    No ar...

    rrsrsrsrssrs

    Bjuuuuuuus!!

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