terça-feira, 19 de julho de 2011

Aos 26 anos

Aos vinte e tantos anos aprendi, a duras penas, que os suspiros de costume são já inconvenientes. Enxerguei que ainda nem são 30 anos, porém a crise da meia idade pode ser sentida se a introspecção for mais afinada. Percebi que o ser humano é tendencioso, que  somente os cães são capazes de exercer a verdadeira fidelidade. Lamentável, pois disso deduz-se que se pode confiar, estritamente, numa figura chamada Ninguém. Os amigos revelam-se amigos de si mesmos e os colegas de rotina confundem-se na definição de amizade. Somente aos vinte e alguns anos enxerguei que não se tem outra chance  para causar uma segunda primeira impressão e que não adianta disfarçar o sofrimento com foscas saudações de bom dia. A angústia do outro  o prende em seu próprio mundo e o torna cego. O interesse move as relações. Estas são fruto de uma mera necessidade instintiva, ou reduzem-se a consequências de más escolhas. Eis a maioria dos casamentos. Com vinte e uns anos senti que não posso mais sonhar como quando dez eu tinha. Ouvi que a vida terrena é passageira e que preciso preencher meu tempo com o que dá sentido a vida, ou seja, com o que dá dinheiro. Flagrei-me questionando-me se há felicidade nessa vida tão corrida. Desisti da resposta quando comecei a sentir que os felizes são, na verdade, os mais oprimidos. Vi que não se morre de amor, não se trabalha para viver. Faz-se o contrário. Aprendi que quanto mais se convive com uma pessoa, menos se a conhece. Parentes são estranhos nascidos no mesmo bairro e o direito de escolha é a maior ilusão já inventada. Aos vinte e seis anos recebi na minha caixa de correspondência duas verdades: a revolta contra a coerção é suicídio e as intenções humanas são sempre as piores possíveis. E eu paro por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário