segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um Lugar Dentro Dela

O ambiente refrigerado não a convencia a estar no meio dos outros colegas. Na aula de Literatura, ela se concentrava nas palavras da professora. Entre uma e outra piada da mestra e gargalhadas dos alunos, eu a observava com maior atenção, a fim de sacar-lhe o esboço de um sorriso. Entretanto, foram apenas dois, desenhados aos cantos da boca. O que faria uma garota, numa sala com cem cadeiras vazias, sentar-se numa das últimas, totalmente isolada dos demais? Talvez para não permitir que alguém interrompesse sua concentração... Quem sabe possuiria uma personalidade anti-social e em avançada introspecção... Cabelos amarrados, olhos cansados e com olheiras, pernas e braços fortemente cruzados e uma seriedade chamativa. Todos estes traços alardeavam seu alheamento a qualquer mundo que não fosse o seu, e a rejeição a todo tipo de contato ou aproximação. Certamente ali dentro era mais agradável que fora. A despreocupação com o que acontecia na realidade exterior a si mesma era fascinante. Somente ela me poderia esclarecer os verdadeiros motivos que a faziam estar dentro da concha. Sem dúvida, evidente era que eu jamais a interrogaria. Longe de mim estava a intenção de tumultuar a paz daquele lugar dentro dela. Restavam-me os seus traços subentendidos e o doce enigma da observação.  E, lógico, não seria eu o quebrar do silêncio daquele espaço fechado, totalmente cerrado lá dentro. A aula chegara ao fim. Rumo à porta, todos.

Um comentário:

  1. Essa criatura estava em seu próprio mundo e nem percebeu que vc enxergava-o. rsr... Massa. Vc consegue perceber coisas sem precisar ser mulher invisível.
    GOstei. Bjo.

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