sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Disputa dos Decibéis


O Som rolava solto! A multidão fervilhava diante da variedade de músicas que ecoavam dos carros ali parados e de dentro do estabelecimento. Eram 22h de uma sexta-feira, e eu estava no ponto de ônibus, defronte ao bar em questão, apelidado “Inferninho”. No tédio da espera pelo transporte, dei as costas à rua e me dediquei à observação daquele exótico cenário. Concedi liberdade aos olhos e ouvidos... Aquelas pessoas não faziam esforços para dançar um pouco de cada música. Perguntei-me se se sentiam bem naquele ambiente tão confuso à minha audição. O sorriso em seus rostos me respondia. Não somente o riso, mas o rebolado, o movimento dos corpos, o gesto despreocupado de beber sua cerveja. Enquanto eu as observava, esforçava-me para discernir uma música da outra, visto que eram ouvidas ao mesmo tempo, numa competição absurda para mostrar quem tocava mais alto, dominando o remexer dos ouvintes.  Um som sobressaíra. ♪♫“... Quando penso em você, meus olhos enchem de saudade...”♪♫. Os casais se abraçavam, trocavam carícias e se envolviam no embalo do ritmo romântico. Logo veio o concorrente. ♪♫ “... Tá dominado, tá tudo dominado...” ♪♫. O frenesí possuiu aqueles indivíduos, fazendo-os se mover em desordem. A competição continuou. Tão logo os volumes das músicas iam se alternando, as pessoas, em gestos totalmente despreocupados, trocavam de gingados facilmente, com uma animação de quem realmente estava se divertindo. ♪♫ “... Chora, me liga, implora meu beijo de novo, me pede socorro, quem sabe eu vou te salvar...” ♪♫. A moça arrochava na coxa do rapaz. Duas meninas e um homem grudaram-se, formando um “sanduíche humano”. ♪♫ “... Quer dançar, quer dançar, o tigrão vai te ensinar...” ♪♫. Como poderia tamanho barulho divertir aquela gente! A disputa continuava. ♪♫ “... Thuco, thuco, thuco do povo...” ♪♫. O “inferninho” pipocava em fervores alucinados. A música eletrônica sacudia os corpos na pista de dança. Só de olhar e ouvir, minha mente já estava cansada e meus ouvidos abafados por tanto estrondo. Convenci-me de que, realmente, não era aquela a minha alternativa de descontração. Cansada da posição de espectadora do ambiente em chamas, voltei corpo e olhos à rua, decidida, então, a pensar somente no veículo que estava por vir. Que bom que iria me divertir também, mas em casa, do meu jeito. Um farol clareou lá na frente. Era o bendito ônibus!


Patrícia Andrade
Bjus, pétalas!

3 comentários:

  1. Legal...mas eu preferiria entrar no meio do povo pra dançar todas as músicas tb...kkkk...

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  2. O bom é nos divertimos da forma que mais nos satisfaz... Eu prefiro o sossego do lar-doce-lar.. kkkkkkk
    Bjus!!!

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  3. Bom dia, Paty,

    O seu texto/crônica está belíssimo. Na leitura, fui reproduzindo mentalmente todas as imagens. É como se eu estivesse ali com você esperando um ônibus.

    Beijos,

    Elinéia Leal

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