quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Filme de Suzana

A mulher traída entrou em casa, furiosa, decidida a por em prática seus esquemas de vingança, minunciosamente premeditados. O adúltero estava lá, como de costume, jogado no sofá. A entrada da esposa não foi percebida, o que favoreceu suas ações. Ela foi à cozinha, sacou a faca e, aproximando-se da poltrona onde ele estava, por trás, a enfiou em seu pescoço. A agonia iniciara-se. Ela deu a volta e sentou-se em seu colo para vê-lo agonizar de perto, enquanto o sangue jorrava em jatos frenéticos. Antes que o sofrimento terminasse, teve a ideia de arrancar-lhe os olhos com as próprias mãos. O fez com tamanha satisfação, que suas gargalhadas se tornavam mais vibrantes tão logo seus dedos penetravam mais fundo o crânio do cônjuge. Com os globos oculares em mãos, tratou de fazer o esposo sentir o último sabor de sua vida. Meteu-lhes na garganta dele e pôs-se a observar a sua performance em últimos suspiros. Esvaziou-se de sangue, engasgou-se com suas próprias retinas, e finalmente morreu. A esposa lesada sentiu-se plenamente justiçada. Levantou, lavou as mãos, conferiu o passaporte na mala e saiu porta afora, desaparecendo sem deixar rastros maiores. As luzes do cinema se acenderam. Suzana se levantou, deixou o lugar e fez o trajeto de volta para casa, pensando nestas últimas cenas do filme que acabara de ver. Quanto sangue...Graças a Deus não há traição em meu casamento, pensou ela, enquanto entrava em sua moradia. Em segundos, percebeu os gemidos de Leonardo, o marido. E misturados a estes, ouvia suspiros de uma mulher. Por um breve momento sentiu-se sem saber o que fazer. Foi somente questão de instantes mesmo. Antes de entrar no quarto para fazer o flagrante, Suzana visitou a cozinha. A faca foi suprimida da gaveta. O filme entrou em reprise.

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